sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

☼ DE AGRICULTOR A ASSALARIADO


Foto: Joanisa Prates
Quem não tem roçado passa a ser assalariado.

Após a expropriação, os moradores passaram da Vila passaram por maus momentos, mas conseguiram prosseguir. O fato é que: “eles viviam com um arranjo socioeconômico adaptado ao seu ambiente e foram violentamente desligados de parte deste para terem que enfrentar as desumanidades do modo de produção capitalista e terem de vender sua força de trabalho” (GARDA, pág. 75, 1983).

Devido ao seu posicionamento geográfico (proximidade ao centro da cidade) os moradores não precisaram migrar. Os homens encontram trabalho assalariado em fábricas e na construção civil e as mulheres continuaram a fazer renda e aproveitaram o aumento do fluxo de pessoas visitando a praia e começaram a trabalhar como comerciantes nas barracas a beira mar, servindo comidas típicas e bebidas.

Nesse mesmo período 1980 existiam aproximadamente 70 barracas e, segundo Garda, 65 eram de moradores da Vila. Esse desenvolvimento no mercado informal foi possível por diversos motivos. No final da década de 1970 foram construídos (ao norte da Vila) dois conjuntos habitacionais: o Conjunto Ponta Negra e o Conjunto Alagamar com aproximadamente 2.100 casas e 11.000 de habitantes[1] . Esse advento fez o número de habitantes aumentarem consideravelmente e, se avaliarmos o número de migrantes que foram chegando ao local, esse aumento é ainda maior. Tal contexto fez com os contrastes sociais começassem a surgir e a Vila passou a ser rodeada por bairros das camadas médias e altas do único lado para onde ela poderia crescer.

Mesmo com toda essa mudança, o clima de cidade praiana ainda existia no bairro e a elite intelectual de Natal adorava frenquentar a vida noturna da Vila de pescadores. Entretanto (sempre há o entretanto!) o bairro foi crescendo de maneira desordenada, sem a presença do poder público para organizar as questões espaciais, territoriais e sociais.

No final doa anos 1980, a orla marítima passa por processo de urbanização que tinha como objetivo deixar o espaço da orla e do bairro em evidência, atraindo assim investimentos (nacionais e internacionais) e exploração das atividades turísticas. Em 1993 a Vila e seu entorno são considerados bairro de Natal, o turismo começa a ser foco dos investimentos da cidade e Ponta Negra passa a ser a menina dos olhos do turismo nacional e internacional.

Em 2000 é executado o projeto de reurbanização da orla de Ponta Negra, com recursos obtidos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por meio do Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR –RN) que resultou na construção do calçadão com três quilômetros de extensão na iluminação da área e revestimentos das calçadas que contornam a descida da praia (antes era duna de areia) e na substituição das barracas por quiosques de fibra de vidro.

Mais uma vez a história se repete. Mais uma vez os moradores da Vila sentem na pele o que é ser a minoria que precisa ser sacrificada pelo bem da “maioria”.

CONTINUA...



[1] Levantamento de campo feito por GARDA, 1983.

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